Com o término do vazio sanitário, período crucial para o controle de pragas na produção agrícola, os agricultores do Mato Grosso se preparam para iniciar o plantio da soja, principal cultura do estado e do país. Contudo, a expectativa para o início da safra 2024/2025 tem sido marcada por apreensão. A ausência de chuvas, somada às altas temperaturas e ao aumento das queimadas na região, está causando grande preocupação entre os produtores.
O vazio sanitário, que no Mato Grosso teve seu fim no último dia 07 de setembro, é uma medida preventiva adotada para reduzir a presença de fungos, como o causador da ferrugem asiática, uma das doenças mais devastadoras para a soja. Com a proibição do cultivo durante esse período, os agricultores aguardam ansiosamente a chegada das primeiras chuvas para iniciar o plantio com segurança. No entanto, a estiagem prolongada compromete o planejamento de muitos.
Segundo meteorologistas, as chuvas previstas para o início da safra estão atrasadas, e a irregularidade nos índices pluviométricos tem sido uma constante preocupação. Além disso, as temperaturas elevadas, que ultrapassam facilmente os 35°C em várias regiões do estado, aumentam a evaporação e intensificam o estresse hídrico nas plantações.
Para o agricultor João Pedro Marques, que há mais de 20 anos cultiva soja na região de Sorriso, a situação é inédita: "A gente sempre espera que as primeiras chuvas venham logo depois do vazio sanitário. Esse ano, está tudo muito seco. Se plantarmos sem a garantia de umidade no solo, o risco de perder a lavoura é enorme."
Além da ausência de chuvas e do calor extremo, outro fator agravante tem sido as queimadas, que nos últimos meses atingiram níveis alarmantes no Mato Grosso. O fogo, muitas vezes resultado de práticas irregulares de manejo, somado ao clima seco, tem se alastrado rapidamente, gerando prejuízos para a vegetação nativa e aumentando os riscos para as áreas de cultivo.
A fumaça proveniente das queimadas também tem efeitos negativos sobre o meio ambiente, impactando a saúde humana e reduzindo a qualidade do ar. No setor agrícola, ela dificulta a visibilidade e pode atrasar ainda mais as operações de campo, especialmente aquelas que envolvem o uso de máquinas pesadas.
O Mato Grosso, responsável por aproximadamente 27% da produção nacional de soja, enfrenta uma situação que pode afetar não apenas o setor agrícola estadual, mas também o mercado internacional. A soja é um dos principais produtos de exportação do Brasil, e qualquer atraso significativo no plantio pode resultar em perdas econômicas relevantes, impactando a balança comercial e o fluxo de exportações.
Para muitos agricultores, a única alternativa é aguardar a chegada das chuvas. No entanto, cada dia de espera implica em ajustes de calendário, riscos de perdas e aumento da incerteza. Alguns produtores, que dependem de financiamentos e prazos rígidos, já começam a temer os efeitos do atraso no fluxo de caixa.
Apesar das dificuldades, os especialistas em agronomia recomendam que os produtores mantenham a cautela e não se precipitem no plantio, aguardando as primeiras chuvas para garantir que o solo tenha a umidade necessária para o desenvolvimento das sementes.
Técnicas de manejo, como o uso de irrigação suplementar em áreas mais críticas, estão sendo avaliadas por alguns produtores com maior poder aquisitivo. No entanto, essa prática ainda é inviável para a grande maioria, especialmente em um estado com vastas áreas de cultivo como o Mato Grosso.
Enquanto o clima permanece incerto, os agricultores seguem atentos às previsões meteorológicas e na esperança de que a chuva traga o alívio necessário para o início da safra. Até lá, a tensão aumenta, e a safra de soja 2024/2025 promete ser uma das mais desafiadoras dos últimos anos.